O usurpador. Portugal acerta actualmente os seus relógios pelo Tempo Médio de Greenwich (TMG), correspondente ao fuso 24 (ou 0), mas o Governo está a estudar a possibilidade de voltarmos ao regime que vingou até 1996. A mudança consistiria em adiantarmos os relógios uma hora para nos orientarmos pelo tempo da Europa Central (CET), correspondente ao fuso 1.
Para se perceber a enormidade da medida, é preciso saber-se que o território de Portugal Continental se situa no fuso 23, não no 24: o meridiano de Greenwich passa por Valência, uma cidade localizada no outro extremo da Península Ibérica. Por conseguinte, mesmo no regime actual, a hora em Lisboa já está adiantada em relação à hora solar 40 minutos no Inverno e 1 hora e 40 minutos no Verão, com as inevitáveis consequências nefastas para o organismo humano. Se a hora mudar, Lisboa passará a estar adiantada em relação à hora solar 1 hora e 40 minutos no Inverno e 2 horas e quarenta minutos no Verão!
Argumenta-se que a adopção da hora da Europa Central é favorável à nossa integração europeia, mas é difícil aceitar essa lógica. O Reino Unido, que teria mais razões para adoptar a hora central europeia do que nós não o faz, nem se preocupa sequer com isso. Não é por haver uma diferença de três horas entre Los Angeles e Nova Iorque que a integração económica é menor nos EUA. Finalmente, uma maior aproximação à hora europeia tem como consequência inevitável afastar-nos, por exemplo, dos EUA e do Brasil.
Além disso, que vantagens decorreriam exactamente da uniformização? Será a completa sobreposição dos horários de trabalho uma vantagem importante na era dos telemóveis e dos emails? E não será mais vantajoso ser mais cedo em Portugal para quem tem de tomar um avião de manhã para participar numa reunião de trabalho bem cedo em Londres ou Frankfurt?
Dêem-se as voltas que se derem, é difícil vislumbrar motivações racionais nesta teimosia.
Trata-se apenas, na verdade, de mais uma ridícula manifestação do revanchismo primário que orienta o Governo de Durão Barroso, o qual só se daria por satisfeito se conseguisse varrer do nosso viver colectivo toda e qualquer memória do governo do usurpador António Guterres.
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