24.10.03

A cultura serve-se fria

Não acham estranha esta obsessão de recomendar livros aos telespectadores que têm os comentadores do PSD? Alguém imagina o Miguel Sousa Tavares ou o Sócrates, por exemplo, a fazer isso?

A direita passa-se dos carretos com qualquer sugestão de que é culpada de um déficite de preparação cultural, razão pela qual não perde uma ocasião de exibir os seus escassos troféus. A verdade, porém, é que para aquelas bandas não se lê muito.

Mas como é possível dizer-se isso de um partido recheado de professores universitários, gestores de topo e juristas? Funcionam um bocado no modelo do Cavaco que, se bem se recordam, «não tinha tempo» para ler nada fora do estreito âmbito dos manuais de Finanças Públicas (e até desconfio que mesmo a Microeconomia já era para ele um tema um tanto esdrúxulo).

Felizmente que há gente (Marcello e Pacheco) que lê por eles e depois informa o povo do que está a dar. Cada um dos comentadores adopta, porém, um formato distinto.

Marcello passa a correr pelas capas e pelas lombadas, quando muito dá uma espreitadela às badanas. É o modelo Círculo de Leitores da compra de três metros de livros para decorar a estante. Fica sempre bem numa casa de família.

Já Pacheco é o Reader´s Digest do PSD. Ele lê aquelas tremendas chumbadas do Túcidides, do Orwell ou do Kafka e depois serve as conclusões já devidamente mastigadas e digeridas, prontas a usar no debate ideológico.

Topam?

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