28.10.04

Batam mais no ceguinho

Há que reconhecê-lo: do estrito ponto de vista do debate político, este governo não dá gozo nenhum. Tirando uma ou outra mãe mais estremosa deste ou daquele ministro, nem há quem o defenda.

É tal o descalabro e a asneira, que a tendência natural de uma pessoa generosa é para exclamar: «Não batam mais no ceguinho!» e virar as costas.

Mas, precisamente, a hora exige de nós que não sejamos diletantes. Por muito que isso repugne à nossa caridade cristã, temos de facto que continuar a bater quotidiana, incansável e, direi mesmo, cruelmente no ceguinho.

Por mim, abomino violências. Mas pode ser que assim, ao ver o desgraçado ser insultado, cuspido, humilhado, pisado, pontapeado e desmembrado em plena praça pública, a agonizar numa poça de sangue, o Presidente da República, com o seu proverbial coração de ouro, tenha dó e se decida a demitir o ceguinho a tempo de salvá-lo da fúria da populaça.

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