O futebol é uma coisa relativamente misteriosa para os partidários do individualismo metodológico.
O primeiro Wittgenstein, Rudolf Carnap e o próprio Popper tenderiam a concordar com Florentino Pérez: a equipa que reúne os melhores jogadores tem forçosamente que ser campeã.
Mas a força de uma corda não resulta da força dos fios individuais que a compõem, cada uma das quais só está presente numa pequena parte da sua extensão total. O segredo reside no modo como elas se entrelaçam.
A Filarmónica de Berlim só teve quatro maestros principais ao longo do seu primeiro século de existência (von Bulow, Nikisch, Furtwangler e Karajan), mas a extraordinária consistência que a orquestra manteve decorreu do facto de ela ser uma «república de músicos» que elege o seu líder. Os músicos vão e vêm, mas o espírito do grupo vai passando de forma insensível de uns para os outros.
Ouvimos dizer às vezes que uma determinada equipa tem muita experiência internacional, apesar de metade dela ser constituída de jogadores que até aí apenas haviam disputado competições domésticas. E, no entanto, é verdade: a equipa tem mesmo experiência internacional.
Quando um clube perde três das suas peças fundamentais na época anterior, tem por força que enfatizar os factores de continuidade para preservar o jogo de conjunto e evitar a descaracterização da equipa. Se o treinador, num momento de adversidade, retira do campo dois dos quatro únicos jogadores de que dispõe com estatuto para liderar os restantes, é evidente que ele, para além de estar a meter-se em sarilhos, é escravo de uma doutrina filosófica errónea que desconhece.
22.10.04
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