1.10.04

Deus morreu, o Porto também, e eu próprio não me sinto lá grande coisa

O confronto entre o criador e a sua criatura teria por força que terminar como terminou. Contra mitos não há argumentos.

Confesso que, quando o Pinto da Costa se lembrou de ir buscar o Mourinho, achei que era mais um daqueles exercícios de remexer no caixote do lixo do Benfica só para chatear, semelhante a outras más ideias do género da contratação do Panduru.

A pouco e pouco fui obrigado a engolir a minha ignorância. Mas foi só quando ouvi o Mourinho a comentar em directo na TVI o Portugal-Espanha no último Europeu que me apercebi o quanto o tipo percebe da poda. O Mourinho a dissertar sobre futebol é o equivalente ao Richard Feynman a explicar a electro-mecânica quântica.

Embora o Porto não seja nesta fase um adversário temível - já percebi que vou andar a dizer isto até ao final da época - a segurança com que o Chelsea venceu o jogo da passada 4ª feira foi pouco menos que pasmosa. Mais uma vez, errei quando o Mourinho partiu para Londres acompanhado pelo Ricardo Carvalho e o Paulo Ferreira. Admito que até verti uma lágrima ao ver esse brilhante trio enfiar-se num clube sem tradição nem espírito ganhador.

Pois bem, agora, depois de constatar como as qualidades que fazem uma equipa coesa e auto-confiante rapidamente migraram das Antas para Stamford Bridge - agora já não digo nada. Eu considerava o Capelli e o Cruyff os Maradonas dos treinadores. É altura de eles se chegarem para o lado e cederem ao Mourinho o seu lugar no meu panteão.

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