6.10.04
Three Quarks for Muster Mark!
Para quase todos nós, pobres leigos ignorantes, a teoria da relatividade pouco mais é do que uma colecção de anedotas sobre astronautas que, ao regressarem à Terra, envelheceram menos do que nós, automóveis que diminuem de volume quando se aproximam da velocidade da luz e outras semelhantes. Quanto à mecânica quântica, entre gatos que estão e não estão dentro de uma caixa e partículas que se deslocam simultaneamente por todos os caminhos possíveis para percorrerem um determinado percurso, o panorama não é muito diferente.
Pior ainda, as coisas não cessam de complicar-se. Quando os físicos descobriram que, afinal, os átomos não eram as unidades básicas da matéria, dado que uns minúsculos electrões giravam velozmente em torno do núcleo, e que este, por sua vez, se decompunha em protões e neutrões, o abalo não foi grande. Ao fim ao cabo, os átomos assemelhavam-se a minúsculos sistemas planetários, imagem a que já estávamos familiarizados pelo menos desde Galileu. Em 1932 estávamos nesse ponto, mas o pior ainda estava para vir.
Afinal, os protões e os neutrões não são de facto partículas elementares. No último meio século apareceram mais de 30 partículas de vida média (mais que um centésimo de segundo) e 60 de vida curta, incluindo o fotão, o gravitrão, os bosões, os leptões (incluindo o electrão, o muão e os neutrinos) e os hadrões (que se subdividem em bariões e mesões). Ao que parece, porém, todas essas partículas são, por sua vez, formadas de quarks, dezoito ao todo, complementados por mais dezoito anti-quarks. E o que são, precisamente, os quarks?
Os quarks estão disponíveis em seis «sabores», designados: «em cima», «em baixo», «encantado», «estranho», «cima» ou «verdade» e «baixo» ou «beleza». Cada «sabor» apresenta três «cores»: vermelho, verde e azul. Todavia, estas descrições são enganadoramente claras; na verdade, os quarks não sabem a nada nem têm qualquer cor, e elas reflectem apenas a imaginação dos cientistas. Perceberam? Eu também não.
E os quarks existem mesmo? Como, até agora, ao que me dizem, foi impossível isolá-los, a prova só pode ser conseguida por meios indirectos. Mas, não sendo possível isolá-los, como podemos ter a certeza de que são de facto partículas elementares, ou seja, como sabemos que não podem ser, por sua vez, subdivididas em outras mais pequenas?
Há aqui um drama angustiante. A física nunca foi fácil de compreender, é claro, mas estava ao alcance do entendimento de uma pessoa razoavelmente culta. Hoje, porém, tirando os próprios especialistas, suspeito que poucos percebem do que eles tratam. Eu, por exemplo, apesar dos meus incansáveis esforços, confesso que cada vez compreendo menos.
Podemos entender as equações matemáticas em que essas teorias se encontram formuladas, mas não conseguimos encaixá-las na nossa percepção quotidiana das coisas. Abre-se assim um enorme fosso entre a ciência e os cidadãos, mesmo considerando apenas os mais cultos dentre eles.
Abner Shimony, um reputado epistemólogo, considera a ciência contemporânea uma espécie de «metafísica experimental», mas constata sombriamente que, no século XX, «a metafísica se tornou incompreensível».
Penso em tudo isto ao ler hoje a notícia da atribuição do Prémio Nobel da Física a três cientistas responsáveis, dizem os jornais, por uma descoberta contra-intuitiva: «quanto mais próximos estão os quarks, menos intensa é a força forte que os mantém unidos.» Definitivamente, nada disto parece fazer sentido. Saiam mais «three quarks for Muster Mark!»
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