Ensinaram-me que um segredo é uma coisa que só se conta a uma pessoa de cada vez, mas, pelos vistos, essa regra está obsoleta.
Ora vejam. O Expresso de hoje titula na sua primeira página: «Pacto secreto Santana-Portas: PSD concorre sozinho em 2006 mas promete convidar CDS para o Governo».
Primeira perplexidade. Que grande segredo é este, que não foi possível mantê-lo por mais de três dias, dado que, acrescenta o artigo, o acordo teria tido lugar apenas na última quarta feira?
Segunda perplexidade. Ainda segundo o Expresso, a informação foi transmitida por «uma fonte próxima do 1º ministro». Logo, na perspectiva dessa fonte, um segredo pode agora ser divulgado num jornal sem que isso implique forçosamente quebra de confidencialidade.
Terceira perplexidade. O segredo transferiu-se, assim, do acordo para a fonte. Quem poderá ter sido o informador? O assessor de imprensa de um deles, evidentemente - mas de qual dos dois? Portas ou Santana?
Porque é esse, não o duvidemos, o verdadeiro segredo, o grande mistério deste estranho caso.
Raciocinemos. Ou a notícia é verdadeira, e o autor da fuga é Portas, porque só ele teria interesse que se soubesse; ou, mais provavelmente, a notícia é falsa, e o autor da ideia é Portas, pois só ele teria interesse em que fosse verdadeira. Por conseguinte, o segredo não é aquele que parece, mas outro bem diferente.
Agora, façam de conta que eu não disse nada, nem contem a ninguém: é suposto ser segredo.
2.10.04
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