Ainda no período de aquecimento pus a tocar a cantata «Ein feste Burg ist unser Gott» (O nosso Deus é uma poderosa fortaleza) BWV 80, e foi ao som desse tema exaltante que o árbitro apitou para o inicio da final da Taça UEFA.
Não sei se terá sido por influência do Bach, mas as coisas começaram bem. Nós sempre em cima deles, sem lhes permitir respirar, até que, em cima da meia hora, o júbilo atingiu o ponto mais alto: «Jauchzett Gott in allen Landen!» (Louvai Deus em todos os lugares) BWV 51.
O último quarto de hora da primeira parte já não correu tão bem. Em vez de aproveitar o desacerto do adversário para desferir a estocada fatal, a equipa começou a jogar bonitinho, com sucessivos toques de habilidade que animaram o público, mas também o CSKA. Se o Love não tivesse calçado as botas trocadas, a coisa poderia ter azedado logo na primeira parte.
Recomeça a partida, e logo se percebe que isto já é outro filme. O jogo de equipa foi-se esboroando a pouco e pouco, e a fragilidade física tornou-se evidente. Os do CSKA jogavam e corriam, os de verde assistiam. «Actus tragicus» (não precisa de tradução), está bom de ver, aos 57 minutos de jogo.
E a sensação de que o pior ainda estava por vir.
Mudei para «Wachet auf, ruft uns die Stimme» (Acordai, disse-nos a Voz) BWV 140, a equipa reagiu, juntou todas as suas forças, e há àquela jogada em que não se entende se o Rogério falha o golo ou evita o golo.
Como diria Dostoievski, quem não marca arrisca-se a sofrer. «Ich habe genug» (Estou farto) BWV 82, canta o Concentus Musicus Wien sob a direcção de Harnoncourt. E eu também.
Chega por último a hora da resignação: «Weinen, klagen» (Lágrimas e suspiros) BWV 12, de enrolar as bandeiras e as faixas, de enxugar as lágrimas dos miúdos e de explicar às mulheres que estranham a derrota dos campeões que no ano passado não foi o Sporting, foi o Porto quem ganhou a final.
Está visto que o Bach não funciona. No domingo vou antes experimentar o Wagner.
19.5.05
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