29.7.08
A obra financeira do PSD
Não é frequente ver-se este gráfico que descreve a evolução do défice das contas públicas entre 1980 e 2004.
Para os mais esquecidos, o Ministro das Finanças do Governo da AD, em 1980 e 1981, foi Cavaco Silva. Apesar do desequilíbrio da balança de pagamentos, valorizou o escudo, baixou a taxa de juro e congelou os preços dos transportes públicos em pleno segundo choque petrolífero. Nunca a situação financeira do país se degradou tão depressa como então.
Não admira que Cavaco Silva tenha fugido rapidamente do governo e que Balsemão o tenha também abandonado em 1982. Em 1985 Cavaco voltou, já como primeiro-ministro, e isso nota-se imediatamente no gráfico. Nos anos subsequentes, a entrada dos fundos comunitários atenuou o défice do orçamento geral do Estado, que desceu para os 4% em 1989.
Mas era preciso conquistar nova maioria absoluta em 1991, de modo que as despesas correntes voltaram a crescer em flecha. A massa salarial dos professores, por exemplo, cresceu 98% entre 1989 e 1991.
Novo recuo temporário pós-eleitoral, novo disparo em seguida, de modo que, ao chegar ao Governo, o PS recebeu um défice de quase 8%. Pode-se ver no gráfico como ele diminuiu continuamente até 2000. Em 2001, ano em que se inverteu a tendência, subiu um pouco acima dos 4%, registando uma descida mínima em 2002.
Regressado em 2002 ao governo, o PSD retomou prontamente a sua tradição despesista, atirando o défice para perto dos 6%. Sabemos como, com Sócrates, regressou entretanto para perto dos 2%.
Ouvimos às vezes dizer que o trabalho feito pelo actual governo poderia ter sido feito pelo PSD, mas é difícil entender-se em que se baseia esta crença. Nada - mas mesmo nada - no currículo do PSD sugere que saiba ou queira pôr na ordem as contas públicas. Na sua última passagem pelo governo, agitou a crise financeira como justificação para reduzir despesas sociais, mas jamais revelou vontade de atacar os problemas de fundo, fosse reduzindo despesas, fosse aumentando receitas.
É necessária uma certa falta de pudor para, perante os dados revelados no gráfico acima, o PSD continuar a pretender apresentar-se como modelo de virtudes no que respeita à consolidação orçamental. É claro que só pode fazê-lo porque a esmagadora das pessoas nunca viu estes dados.
Eu acrescentaria que, bem vistas as coisas, não há nada de extraordinário na história da política orçamental do PSD. Olhem para os EUA e também aí constatarão que, mau grado as grandiloquentes proclamações, a direita deixa sempre atrás de si défices gigantescos. Vejam Reagan, vejam Bush pai, vejam Bush filho.
A redução dos impostos sobre as classes altas e a distribuição de dinheiro de forma indiscriminada para ganhar eleições levam inevitavelmente a esse resultado. Quem vier a seguir que resolva o problema.
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12 comentários:
A frase repetidamente dita e ouvida em toda a parte, por inúmeros comentadores (todos eles do PSD) – "o governo Sócrates está a fazer tudo o que o PSD faria se estivesse no poder" – é uma mistificação, um embuste gritante que só mostra o grau de demagogia e de propaganda a que se presta a comunicação social "do regime".
Muito interessante este gráfico! E muita ignorância, défice de bom jornalismo e de bons jornalistas. Outro exemplo desse défice é a imagem de rigor q se cultiva de políticos como Cavaco ou MFL.
excelente post. costumo dizer isto a muitos amigos meus (que o historial do PSD em termos de finanças públicas é tudo menos brilhante), mas com este post e o gráfico vou arrumar de vez a questão junto dos mesmos :-)
Para os mais esquecidos, o Ministro das Finanças do Governo da AD, em 1980 e 1981, foi Cavaco Silva
-Apenas em 1980. Após a morte de Sá Carneiro em Dezembro de 1980, Pinto Balsemão assumiu o cargo de primeiro ministro, Cavaco Silva, Eurico de Melo entre outros, saltaram fora. Só não posso precisar o dia da substituição, se chegou a entrar por Janeiro terá sido uma questão de dias. Penso que foi João Salgueiro quem o substituiu, mas estou a falar de memória, não tenho certeza absoluta deste último ponto.
Correcções:
- Cavaco Silva foi MInistro das Finanças em 1980. Sá Carneiro morreu a 4 de dezembro desse ano.
- Quem o substituiu foi Morais Leitão.
- A leitura do gráfico dá-nos a entender que o défice subiu de 1980 para 1981. Mas isto pode ser só ilusão de óptica. Não se percebe. seria preciso olhar mais para trás. Mas uma coisa é certa: com este gráfico a conclusão do autor plasmada no texto é abusiva.
- O pico de 1991 pode de facto ser impuitado a questões eleitoralistas.
- A partir de 2000, data em que começamos a divergir da União Europeia, rompendo uma linga série começada nos anos 60, tod o desvario dos governos guterres caem em cima do orçamento - desvarios que ainda estamos a pagar como as SCUTs e outra despesa deferida e adiada.
- Na segunda metade dos anos 90 as taxas de crescimento económico foram altas. Isso significou aumento de receita fiscal e portanto os défices da era "Sousa Franco" são feitos à custa de auemnto de receita e não de controle da despesa.
- Se fixzer este gr+afico com o d+efice ajustado ao ciclo económico verá o seguinte: Portugal tem dois períodos de esbanjamento (1980-81 até 1983 e 1995 até 2001), tem um governo heróico (1983-85) q diminuiu a despesa em contraciclo e trajectórias consistentes c a reduição do défice nos outros momenstos (Exceptuando o pico de 1991).
- AS suas conclusões são enviesadas. Mas isso n me espanta uma vez que V.Exa. levou a sério aquele gréfico do Krugman.
- A análise económica séria não se dá com divisões de mandatos políticos nem pode ser alimentada por espírotos sectários.
Não é o pico de 91, caro anónimo. São os picos de 90, 91, 93 e 94. Muitos picos para tanto alarde de virtude, não acha?
Evidentemente, concordo que os dados pedem uma análise mais profunda, mas a primeira impressão não deixa de ser instrutiva, especialmente porque desmente falsidades diariamente apregoadas.
Faço minhas as palavras do comentador Bruno.
Outro -importante- tema a abordar, desse período, é a Educação e o descaminho que levou.
PGA e abertura de N "universidades" privadas como se fossem mercearias, etc.
Vais desculpar-me, João, mas a minha memória democrática permite-me recordar vividamente o papel obstrutivo, sistematicamente destrutivo, caninamente persecutor, das políticas, fossem quais fossem, do PSD, naquele primitivismo pseudo-democrático, que não encara o País como alvo preferencial de estratégias e metas comuns, mas como a criança entre um casal em separação cuja tendência é subalternizá-la em favor da sua pseudo-posse.
Daí que a tua matemática, gizada embora num português contabilístico artisticamente irrepreensível, tal como uma boa cópia de Picasso também pode ser quase melhor que o original, esteja eivada de uma espécie de Idade da Pedra dos argumentos e de um Arcaico Código de Honra, entre Partidos tão profundamente Decadentes e Decaídos da nossa profunda confiança antiga, Código de Honra obsolescente do que a nós, gente comum, verdadeiramente interessa na horinha de votar.
Por isso, João, não vás por aí. Mas já que foste e já que vais, boa viagem. Terás sempre por cá gente boa ainda com margem para acéfalo aplauso e ingénuo louvor, bajulando-te as postas como num Benfica-Sporting da Política.
Há mais política que esse jogo caduco.
E por mim, estou cansado das irmãs gémeas desavindas mas federadas nesse infinito coito hermafrodita, PS vs.PSD.
PALAVROSSAVRVS REX
A atitude mais fácil é dizer que PSD e PS não prestam. Mais ainda é não votar
Ass: Phónix
Cavaco pode ser do PSD, mas é keynesiano.
Todos somos keynesianos, mesmo - ou sobretudo - aqueles que não sabem o que isso quer dizer.
«Todos somos keynesianos»
Alto lá! Cada macaco no seu galho.
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