2.7.08

Nós e o futebol alemão

Numa antevisão do Espanha-Alemanha do passado domingo, um jornalista do Público recuperou para título da sua peça o célebre obiter dicta de Gabriel Alves: "A força da técnica contra a técnica da força."

Para ele, como para a maioria dos portugueses, é preciso técnica para fazer um drible ou um centro de trivela, mas não para fazer um passe certeiro a trinta metros de distância ou para rematar com força ao ângulo da baliza.

A nossa quase universal detestação do futebol alemão é um sintoma insofismável do apreço pela incompetência com que encaramos qualquer actividade profissional.

A fantasia e a improvisação são extremamente valorizadas porque, no fundo, ninguém sabe o que anda a fazer, sendo muito comum as pessoas não dominarem as ferramentas essenciais do seu ofício. Daí a necessidade de inventar.

Os futebolistas alemães sabem que só precisa de inventar continuamente jogadas novas quem nunca se maçou a treinar a sua proficiência nas antigas. Sabem também que a criatividade produz melhores resultados quando devidamente enquadrada numa organização que funciona.

É assim que funciona o jazz, sabiam?

1 comentário:

Miguel Silva disse...

Sim, sabia.
Mas parece-me que, na bola como no jazz, não se atinge verdadeiramente a invenção (o improviso). Atinge-se a recapitulação quase automática de uma série de sequências muito bem ensaidas das quais se pode escolher confortavelmente uma delas para solucionar o que se tem à frente. Não se "inventa" uma finta se não se souber o que fazer. Não se "improvisa" em cima duma harmonia sem saber o que se está a fazer.