15.10.06

Os profetas da desgraça não gostam de ser desmentidos

1. A expressão "crise económica" é razoavelmente objectiva. É evidente que a crise económica acabou quando há um ano que o PIB sobe e o desemprego desce. Isto não equivale, como qualquer pessoa de senso entende, a sustentar que não subsistam seriíssimos problemas económicos. O défice da nossa balança de transacções correntes em proporção do produto permanece, acompanhado de perto pelos da Espanha e dos EUA, o mais elevado da OCDE. Como o investimento directo estrangeiro não dá sinais de regressar a valores suficientemente elevados, isso significa que continuamos a endividar-nos face ao exterior.

2. O Ministro da Economia é inábil ao ponto de ser legítimo duvidar-se da sua competência para ocupar um cargo político de tal importância. Dito isto, é preciso denunciar a desonestidade da armadilha jornalística que lhe foi montada. Tudo se resume ao facto de, quando a TSF reproduz a pretensa retractação de Manuel Pinho, ser omitida a pergunta que lhe foi colocada. Aposto que foi uma coisa do género: "Parece-lhe correcto decretar o fim da crise económica?". Ao que ele respondeu, como se sabe, que isso é uma "infantilidade". Creio que não é preciso dizer mais nada.

3. É interessante verificar que, neste país fadista, o optimismo realista é mal visto na mesma medida em que o pessimismo fantasioso é considerado sinal de bom senso e bom gosto. Qualquer palerma está autorizado, sem que daí resulte qualquer sanção social, a produzir as afirmações mais estapafúrdias sobre imaginárias crises disto e daquilo. Mas proclamar o óbvio suscita generalizados sorrisos alarves quando se dá o caso de o óbvio ser uma boa notícia a medo proclamada com meio ano de atraso.

4. Ao fim e ao cabo, a maior parte do tempo os países não vivem em crise. Eis o que parece ser uma verdade intolerável para os profetas profissionais da desgraça.

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