31.10.06

Tesouros do humor pátrio



Apesar de toda a gente lhe garantir que a Guarda não tinha ponta de interesse, Unamuno sentia um irresistível desejo de visitá-la, acicatado de cada vez que, deslocando-se entre Salamanca e Lisboa, o comboio parava na estação e ele vislumbrava a cidade ao longe.

Não precisou de muito tempo, ao chegar lá, para dar razão à Sociedade de Propaganda de Portugal por desaconselhar o passeio. Não havia mesmo nada para ver na Guarda, nem sequer a botica do padre de Tomásia, a heroína de O Filho Natural de Camilo, entretanto vitimada por obras de “modernização” que a haviam por completo descaracterizado.

Salvaram a deslocação os desopilantes momentos proporcionados a Unamuno pela leitura dos jornais locais, recheados de uma prosa espessa, solene, pretensiosa, inflamada, de uma comicidade inconsciente, que, como se sabe, é a manifestação suprema do humor. O que ele se riu a ler o Combate, diário republicano dedicado à Justiça, à Verdade e à Equidade!

Ainda hoje temos por cá muito disso.

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