Há escassas semanas, Barroso avisava solenemente a Bulgária e a Roménia de que "tinham que fazer mais" em matéria de respeito pelos direitos humanos e de combate à corrupção.
Mas eis que, num aparente volte-face, a admissão dos dois países à União Europeia já em Janeiro próximo nos é apresentada como facto consumado, embora num original regime de vigilância apertada.
Quando a Grécia, a Espanha e Portugal aderiram à UE, não só as respectivas opiniões públicas apoiavam esmagadoramente a iniciativa, como as suas democracias se encontravam claramente consolidadas.
Em manifesto contraste, o apressado alargamento a Leste de 2004 trouxe para o seio da União povos que, como todas as sondagens o comprovam, não só não gostam dela como, em muitos casos, a detestam. Uma das consequências mais evidentes desta nova situação é a paralisia institucional da Europa.
Dá vontade de perguntar o que ganhámos nós europeus, afinal, com esta incorporação a marchas forçadas das cleptocracias do Leste, ou a quem pode ela interessar.
Duas coisas me parecem evidentes.
A primeira é o desejo, impulsionado pelos EUA, de isolar a Rússia, atraindo irremediavelmente para a órbita da Europa Ocidental os seus antigos satélites.
A segunda é a estratégia, inspirada pelo Reino Unido, de diminuir progressivamente a componente política da União Europeia, reduzindo-a cada vez mais, segundo o modelo da defunta EFTA, a uma mera adesão aduaneira. A formar presente de fazer avançar essa pretensão consiste em apressar o alargamento sem cuidar de aperfeiçoar os mecanismos de governação democrática da Europa.
Até agora, a presença na União dos países do Leste serviu principalmente esses dois propósitos - o primeiro secundário para o projecto europeu, o segundo claramente contraproducente.
2.10.06
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