1.3.04

Ainda e sempre, Borges



Quem for à procura de um curso de literatura inglesa no «Curso de literatura inglesa» de Borges -- publicado postumamente a partir dos apontamentos das suas aulas) -- corre o risco de ficar seriamente desapontado.

Trata-se apenas de um livro de memórias -- de memórias dispersas polarizadas em torno de certas linhas de certas páginas de certos livros, alguns assumidamente menores, que nalgum momento por alguma razão Borges amou.

O seu assunto é a relação do autor com um certo número de escritores, mais escoceses que ingleses, que, embora siga uma ordem cronológica, não se preocupa em cobrir nem o conjunto da literatura inglesa, nem sequer algo que se assemelhe aos seus autores mais significativos. Que ele não se esforça por cumprir este segundo desiderato prova-o o facto de Conrad, um dos eleitos de Borges, nem sequer ser mencionado.

Como sempre, do que Borges verdadeiramente fala é da sua visão muito pessoal da literatura, e também das suas usuais obsessões com os sonhos, os espelhos, a literatura, a gnose, a memória e os tigres.

De absolutamente novo, para mim, apenas a descoberta da influência do poeta Robert Browning sobre a concepção dos contos do escritor argentino. Tenho que entender melhor o que se passou aqui.


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