15.3.04

Serão capazes?



O governo socialista espanhol tem agora uma oportunidade única de dar início a uma inversão no sentido do combate ao terrorismo.

Embora a Espanha seja ao nível internacional uma pequena potência, todas as atenções se encontram concentradas sobre ela. Muito depende do sentido de responsabilidade e da coragem que nesta ocasião consiga demonstrar.

A Espanha não pode pura e simplesmente retirar-se do Iraque. Mas também ninguém lhe pode exigir que continue a apoiar sem condições a estratégia americana, até porque é cada vez mais claro que ela não tem futuro.

Do que se trata, portanto, é de exigir que a ONU assuma o controlo do processo no Iraque, mesmo depois da transição do poder para as mãos dos locais. Obviamente, o Iraque deverá permanecer um protectorado internacional pelo menos durante a próxima década. Se os EUA não concordarem, é justo que assumam sozinhos o ónus de aguentarem sozinhos a situação no Iraque. Ao que julgo saber, foi exactamente isto que o PSOE sustentou durante as eleições.

Mas isto não basta. Toda a gente espera que o primeiro país que rompeu a coligação explique concretamente qual é o seu programa positivo para combater o terrorismo, tanto mais que acaba de ser vítima do primeiro ataque da Al-Qaeda em larga escala na Europa.

É preciso, por conseguinte, explicar que o terrorismo não se combate nem com cedências nem com violência indiscriminada. As redes terroristas são ágeis e voláteis, mas necessitam de infraestruturas de apoio, das quais a mais importante é a financeira.

É altura de alguém trazer para a primeira linha do debate político o problema do crime organizado e das cumplicidades objectivas de que disfruta um pouco por todo o mundo. O governo socialista espanhol pode fazê-lo. Aliás, é quase obrigado a fazê-lo, se não quiser perder a face.

Acho que isto é simples, acho que é verdadeiro, e acho que toda a gente percebe. O caminho é estreito e perigoso, mas existe.

Sem comentários: