3.3.04

A criação do mundo



O ponto de partida pode ser um quadrado preto sobre fundo branco, como entendeu Malevitch. O próprio ensaiou ainda um quadrado branco sobre branco. Em seguida passou a compor cruzes a partir de quatro quadrados, mas depois cansou-se e partiu para outra.

Rothko agarrou nas coisas nesse ponto e tentou descobrir que mundos seria possível inventar recorrendo apenas a quadrados e rectângulos. Em geral, não necessitou de muitos: dois ou três eram suficientes.

Descobriu que os contrastes cromáticos (ou a quase ausência deles) constituem matéria-prima bastante para criar um universo de uma enorme riqueza visual. Uma ideia simples original foi-se sucessivamente desdobrando em infinitas execuções, cada uma das quais nos dá a ver algo que nunca suspeitáramos.

É na redução da forma ao mínimo indispensável (ou inevitável) que a cor se revela do modo mais sublime.

Esta criação não compete com Deus, dado que é deliberadamente pobre. Não tenta reproduzir, muito menos melhorar, o mundo visível pré-existente. É uma criação de um tipo diferente, que, atendo-se ao essencial, consegue intuir aquelas verdades que se podem mostrar, mas não nomear.

É humilde, porque o seu projecto é minimalista; mas ousada, porque desvela o que antes ninguém vislumbrara.

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