22.3.04

Nem uma lágrima



O xeque Ahmad Yassin sempre assumiu abertamente a sua responsabilidade por inúmeros atentados terroristas que vitimaram impiedosamente centenas e milhares de civis inocentes. Até ao último dia da sua vida, nunca parou de exortar os seus seguidores à prática repetida desses actos demenciais.

Este velho cego e aleijado que fazia sem pudor a apologia da morte sempre me pareceu a imagem da própria estupidez assassina que só se alegra quando espalha à sua volta a destruição e o sofrimento.

Nele, tudo era coerente com o seu niilismo essencial: a ridícula vozinha de cana rachada, os raivosos impropérios contra o inimigo sionista, as ímpias invocações de Alá, o cruel olhar morto, a cadeirinha de rodas transportada por acólitos transtornados, a total ausência de piedade pelas vítimas e de compaixão pelos jovens suicidas que obedeciam às suas ordens, o seu ódio visceral à vida, em suma.

No fundo, pouco lhe interessava o seu próprio povo, porventura a maior vítima dos seus desmandos. Um fanático como o xeque Yassin só pode realizar-se na sua própria aniquilação. Resta-lhe o desgosto de o mundo não ter acabado com ele.

Ele foi -- e talvez permaneça após a sua morte -- um dos símbolos maiores de uma doença misteriosa a que, à falta de melhor nome, chamamos o mal absoluto.

Considero o seu assassinato pelo exército isrelita perfeitamente justificado. Chamar a isso terrorismo de Estado só desqualifica quem o faz: tratou-se de um acto de legítima defesa que nenhum de nós hesitaria em praticar quando colocado numa situação semelhante.

É bem provável que, em si mesma, a eliminação física do xeque não resolva nada de essencial. Ainda assim, é bem possível que ela tire um peso de cima da Autoridade Palestiniana, até agora refém do Hamas e impotente para pôr fim aos seus desmandos.

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