3.3.04
A linha clara
Não era só a linha que era clara. Naquele tempo também o eram as ideias, as situações, a diferença entre o bem e o mal, o certo e o errado, o belo e o feio, nós e os outros, o futuro e o passado, o justo e o injusto, o que é e não é arte, a ordem e o caos, a esquerda e a direita, a ciência e a fraude, a notícia e a ficção, o amor e a indiferença, o conhecimento e a superstição, a coragem e a cobardia, a filosofia e a mistificação, a história e a fábula, a dedicação e a subserviência, o herói e o traidor, a sinceridade e o fingimento, a resistência e o terrorismo, a liberdade e a tirania, Deus e o nada.
Mas depois a gente toma conhecimento que o Hergé, esse supremo activista do humanismo internacionalista, tinha (e, ao que parece, sempre manteve) simpatias fascistas, e essas linhas de demarcação perdem nitidez e começam a esbater-se.
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