13.3.04

Polícia do pensamento

Pacheco Pereira e a impagável Helena Matos deram o exemplo: para eles, a tarefa prioritária na actual conjuntura da luta ideológica é denunciar uma pretensa tibieza da esquerda face ao terrorismo. Com isto deixam claro que, para uma parte da direita, o terrorismo é apenas um pretexto para atacar a esquerda com argumentos especiosos.

Embora eu não esqueça nem desculpe a atitude compreensiva de que a extrema esquerda, com Louçã à frente, sempre deu provas face a fenómenos como a ETA ou as FP25, só uma completa má fé, bem na linha dos processos de intenção típicos dos controleiros estalinistas, permite insinuar que, hoje, a esquerda portuguesa na sua generalidade alimenta algum carinho pelos etarras.

Tem alguma importância saber se foi a ETA ou a Al-Qaeda? Num certo plano, ou seja, no dos crimes contra a humanidade de que este é mais um, é evidente que não. Noutro plano, o de entender precisamente que inimigo temos pela frente, é claro que sim. Mas isto tem tempo, não temos que tirar hoje mesmo uma conclusão.

Mas a razão porque Pacheco teria ganho desta vez muito em estar calado é que, precisamente, foi o governo espanhol quem decidiu que essa questão não só tinha toda a relevância, como deveria ser decidida de imediato.

Pois não ouvimos nós todos na rádio o Ministro do Interior de Espanha declarar peremptoriamente «não haver qualquer dúvida» de que se tratava de obra da ETA? E porquê excomungar energicamente quem ousasse duvidar dessa tese e tentar saloiamente controlar a mensagem passada pelos próprios media internacionais, se não houvesse aqui uma vergonhosa tentativa de capitalizar a comoção gerada pelos atentados em favor do resultado das eleições deste fim de semana?

Acredito que ninguém pode seriamente descartar a hipótese de o atentado ser perpetrado pela ETA, mesmo que fosse verdade essa organização nunca ter operado desta maneira. Mas também ninguém pode com honestidade jurar a pés juntos que os culpados estão identificados.

Se o comportamento do governo espanhol nesta conjuntura não pode legitimamente ser qualificado como populismo do mais reles, não sei o que poderá.

Sem comentários: