Não sabemos ainda o que de facto aconteceu ontem em Espanha.
O PP perdeu porque muitas pessoas que já planeavam ir votar mudaram o sentido do seu voto? Ou porque muitas pessoas que não pensavam votar mudaram de ideias? Ou terá sido uma combinação destes dois efeitos?
Não é indiferente saber-se o que de facto aconteceu.
Se se tratou de uma mudança do sentido de voto, ela pode ter acontecido porque: a) os eleitores ficaram chocados pelo oportunismo revelado pelo PP; b) os eleitores acham que a ameaça terrorista justifica a retirada imediata das tropas espanholas do Iraque.
Para mim, a primeira razão é boa; a segunda é má.
Mas, se a surpresa eleitoral tiver resultado do afluxo às urnas de eleitores que propendiam para a abstenção, o caso é ainda mais intrigante, porque inverte a suposta tendência para o indiferentismo. Também aqui podem ter acontecido várias coisas: a) as pessoas acharam que, face à gravidade da situação, não tinham o direito de se absterem; b) as pessoas acreditaram que, ao contrário do que previam as sondagens, havia uma hipótese real de derrotar o PP.
Estas razões são as duas boas. Uma porque traduz um assomo de responsabilidade social; outra, porque põe em causa o lado negativo das sondagens como self-fulfilling prophesy que dissuade as pessoas de irem votar.
Sabe-se que a moderna abstenção tende a afectar sobretudo os pobres, os iletrados e a esquerda, por razões complexas que não vêm agora ao caso. Dir-se-ía que, ontem, os auto-excluídos da democracia encontraram razões suficientemente fortes para tomarem partido.
Enquanto não se souber exactamente o que se passou -- e eu espero que alguém tenha a curiosidade de fazer um inquérito de opinião que o esclareça -- tudo isto serão apenas meras especulações.
Entretanto, não se esqueçam: votem enquanto podem, porque a democracia é um bem de luxo. Aliás, é mesmo o único bem de luxo a que os pobres têm acesso.
15.3.04
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