14.1.05

Afrontas

A ideia fundamental do laicismo - a César o que é de César, a Deus o que é de Deus - devêmo-la nós, a fazer fé nos Evangelhos, ao próprio Jesus Cristo.

Estávamos nós muito felizes nesta parte do mundo a julgar que a «questão religiosa» estava definitivamente enterrada, eis senão quando, nos últimos anos, começaram a surgir perturbadores indícios de que ela poderá estar a renascer.

Por exemplo: Sarsfield Cabral, aparentemente um cristão moderado, escrevia ontem no DN que Zapatero «afrontou a Igreja Católica» ao legalizar os casamentos homossexuais.

Considero esta afirmação extraordinária. Pelos vistos, a Igreja Católica (ou alguns em nome dela) considera-se afrontada por qualquer legislação que não mereça a sua aprovação. Por outras palavras, o Estado deveria limitar-se a traduzir em letra de lei os mandamentos da religião católica - nem mais nem menos. Tudo o que fuja disto é pura e simplesmente inadmissível.

E porquê? Acaso a lei violenta as consciências católicas, obrigando os devotos dessa religião a fazerem algo que vá contra a sua fé e os seus princípios? Não, evidentemente que não.

Mas então que justificação tem a Igreja para se sentir afrontada? Não seremos antes nós, os que temos outra religião ou não temos nenhuma, e também os católicos homossexuais, que nos deveremos sentir afrontados por a Igreja desencadear uma guerra que tem em vista proibir aquilo com que não concorda?

Isto não promete coisa boa.

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