19.1.05

Madame Curie afinal era homem?

Suponho que, no actual estado dos conhecimentos, ninguém se encontra em condições de afirmar, como o fez Larry Summers, um notável economista e reitor de Harvard, que os homens são geneticamente mais dotados para as ciências e as matemáticas do que as mulheres.

Imaginemos, porém, que isso fosse genericamente verdade. Que conclusão prática se tiraria daí em termos de políticas de formação e recrutamento? Nenhuma, creio eu, porque o facto de em média a população 1 ser superior à população 2 num qualquer atributo não impede que muitos membros da população 2 possam ser superiores a muitos membros da população 1 nesse mesmo atributo.

Não duvidem: Madame Curie era mesmo mulher, como os seus múltiplos amantes puderam atestar. E isso não a impediu de ser uma grande cientista.

A polémica em torno das afirmações de Summers surgiu apenas porque ele as usou para tentar justificar a redução da proporção de mulheres contratadas para cargos importantes em Harvard nos últimos anos. Ora é absolutamente inadmissível que alguém com o poder e a influência que ele tem recorra a argumentos biológicos para desqualificar a priori alguém em relação a um qualquer cargo. Se não me engano, o fascínio contemporâneo com as descobertas da genética cria as condições para que esta sorte de argumentos possa vir a tornar-se cada vez mais frequente nos próximos tempos.

Antes de começarem a soltar os habituais clamores contra o politicamente correcto, pensem nisso.

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