6.1.05

Nation building

Na primeira metade do século XIX (não posso neste momento confirmar a data exacta), algumas bem-intencionadas associações americanas mobilizaram-se para criar uma pátria em África para os escravos que desejassem para lá voltar. Chamou-se Liberia esse país, e todos sabemos o estado em que hoje se encontra.

Na viragem para o século XX, os EUA declararam guerra à Espanha por causa de uma bomba que explodiu no navio Arizona fundeado em Cuba. Sabe-se hoje que a bomba foi colocada pelos americanos. De todo o modo, resultaram daí duas novas nações independentes criadas pelos EUA: Filipinas e Cuba - mais dois casos de sucesso, é claro.

A terceira ronda de nation building de inspiração norte-americana foi a pior. Na sequência da 1ª Guerra Mundial, o presidente Wilson forçou a aplicação no leste europeu do princípio da auto-determinação das nações. Do mesmo passo desmantelava-se o Império Austro-Húngaro e criavam-se vários novos países. O que os americanos não sabiam, ou não queriam a saber, era que, naquela região, os povos encontravam-se misturados há séculos, de modo que era impossível criar unidades territoriais contíguas étnica e religiosamente homogéneas.

Semanas depois começaram as deportações e os campos de concentração, técnicas de engenharia social nacionalista que Hitler elevaria à suprema perfeição. A guerra civil europeia começou aí e durou um quarto de século.

Curiosamente, a criação do Estado de Israel em 1948 foi uma ideia europeia a que os americanos acederam com relutância. Durante muito tempo não apoiaram Israel nem financeira nem militarmente, quando, afinal, ali até havia uma nação com condições para se auto-governar democraticamente.

Os impulsos de nation building por parte dos EUA não constituem, pois, nenhuma novidade. Estão-lhe na massa do sangue, e dão quase sempre maus resultados. Agora que se aproxima a data marcada para as eleições no Iraque, convém lembrar isto, tanto mais que vivemos numa época sem consciência histórica.

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