É claro que, logo à partida, há o problema de Cuba ter representado uma enorme humilhação histórica para os americanos.
Aquilo era deles, entendem? Quem não tiver pachorra para ir ler a história pode referir-se a O Padrinho (parte II) para ficar com uma ideia da situação.
Mas a razão principal que explica a extraordinária deferência com que os EUA tratam a feroz ditadura chinesa é o enorme potencial económico do Império do Meio. Em poucas palavras: a China tem dinheiro, Cuba não. Quanto ao resto, a China é em todos os aspectos pior que Cuba no modo como o Estado trata o seu próprio povo.
Mesmo pobre, a China representa um mercado gigantesco para as empresas norte-americanas. Mesmo pobre, é a China quem actualmente cobre o gigantesco déficite da balança de transacções correntes dos EUA com os investimentos que faz em títulos do tesouro americanos.
O argumento para justificar as facilidades de toda a ordem concedidas à China é muito ténue. Baseia-se na vaga esperança de que, enriquecendo, a China se democratize e se converta ao culto ocidental dos direitos humanos.
Pode ser que sim, mas, para já, parece mais provável que não. Pelo menos, não tão cedo.
Entretanto, não tarda muito a China estará em condições de se tornar uma potência militar de relevo à escala mundial. Não só devido à sua escala populacional, mas também ao facto de um governo tirânico poder livremente desviar fundos para fins bélicos sem Ter que recear a contestação popular.
No passado, os EUA armaram Bin-Laden para combater os russos, e agora queixam-se. Patrocinaram Saddam no Iraque para fazer frente ao Irão, e agora gemem. Tudo isso ainda se passava, porém, numa escala modesta, com a qual os EUA sempre poderiam lidar, embora com grande sacrifício, no caso de as coisas darem para o torto.
Mas... e como será com a China? Quem irá lá lançar bombas ou invadi-la quando decidir dotar-se de armas de destruição massiva ou patrocinar grupos terroristas internacionais?
A concessão de vantagens económicas de todo o género sem em contrapartida se exigir à China, enquanto resta algum poder para tal, que se comporte como um estado decente à escala mundial, que elimine o trabalho escravo, que admita a liberdade de expressão, que respeita os direitos humanos, é uma politica míope e suicida.
O que se está a passar é uma grande irresponsabilidade, perfeitamente em linha com o dogma contemporâneo segundo o qual o sucesso económico tudo justifica e tudo absolve.
19.1.05
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