29.1.05

A Solução Final

O ódio aos judeus era consubstancial ao nacional-socialismo. Por isso, as perseguições começaram logo que Hitler tomou o poder.

A coisa processou-se de início de forma razoavelmente caótica: eliminação de direitos cívicos, espancamentos, humilhações, motins, boicotes, assassinatos, espoliação, e assim sucessivamente.

Com a passagem do tempo, porém, a perseguição foi assumindo uma feição mais sistemática. À medida que o poder militar alemão se expandia na Europa, comunidades judaicas inteiras foram encerradas em guetos, condenadas à morte lenta pela fome e pela doença ou simplesmente fuziladas.

O objectivo assumido era a erradicação dos judeus da face da Europa. A ideia de criar um estado de apartheid na Polónia para os judeus na região de Lublin, avançada por Himmler, foi rejeitada em 1940, tanto por não satisfazer o propósito fundamental atrás referido como por se revelar impraticável.

Foi em seguida contemplada a possibilidade de se criar uma colónia em África para os judeus. Madagáscar, um território pertencente à França ocupada, era o local preferido. Todavia, a continuação da guerra com a Inglaterra inviabilizou a concretização do projecto.

O início da operação Barbarossa deu novo ímpeto ao processo, porque, na imaginação nazi, judeu e bolchevique eram termos sinónimos. Nos dois primeiros anos da invasão da União Soviética deverão ter sido sumariamente liquidados uns 2 milhões de judeus soviéticos.

Estas práticas estorvavam o esforço de guerra, não só porque desviavam recursos humanos e materiais, mas também porque alguns oficiais alemães reagiram mal aos massacres perpetrados pelas forças especiais SS e outras.

Após ter constatado pessoalmente as dificuldades logísticas envolvidas em fuzilamentos de milhares de pessoas, Himmler teve a ideia de alargar a experiência dos centros de eutanásia em funcionamento desde 1941 com carrinhas móveis de gás.

Ficou particularmente animado ao ler num relatório: «Desde Dezembro de 1941 foram processados 97 mil prisioneiros usando apenas três carrinhas, sem que tenha ocorrido qualquer desgaste no material».

O primeiro campo da morte a usar o gazeamento por monóxido de carbono entrou em funcionamento em Belzec em Março de 1942. Foi então posta em marcha a chamada Solução Final, ou seja, o plano para a completa exterminação dos judeus europeus.

O plano abrangia uma rede de mais de 10 mil campos principais e secundários por toda a Europa, desde a Noruega até Creta, dos quais apenas 8 eram campos de extermínio, e uma complexa logística de transporte das vítimas até ao seu destino, às vezes percorrendo milhares de quilómetros em vagões de comboio.

A Solução Final incluía objectivos quantitativos semanais, mensais e anuais detalhados de extermínio e envolveu a colaboração de milhares de urbanistas, arquitectos, engenheiros, médicos, enfermeiros, gestores, burocratas e guardas.

Esta organização industrial da morte - o «processamento especial» dos judeus, como se escrevia nos relatórios oficiais - constitui a marca distintiva do Holocausto.

A Inquisição também foi uma máquina burocrática rigorosa e metódica de terror, mas, a bem dizer, não tinha como objectivo central a eliminação física de todas as suas vítimas. As Noyades de Nantes, em 1794, durante a Revolução Francesa, são porventura o fenómeno mais parecido, embora muito limitado no tempo e no espaço.

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