Quando foram presos os irmãos Dalton - os verdadeiros, não os do Lucky Luke - um jornalista com pouca imaginação perguntou-lhes porque é que se dedicavam a assaltar bancos.
Resposta dos rapazes: «Because that’s where the money is» («Porque é lá que está o dinheiro»).
Muitos comentadores actuais ainda não perceberam que os ladrões de sucesso tendem a concentrar os seus esforços em sacar o dinheiro dos sítios onde ele verdadeiramente se encontra. Por isso, preocupam-se excessivamente com a corrupção do poder autárquico, que movimenta menos de 10% das verbas do Orçamento Geral do Estado, e pouco com o resto, que é o que mais importa.
Vai daí, não enxergam senão a corrupção nas autarquias, e enxofram-se muito com o dinheiro que se gasta por esse país fora a construir rotundas e estádios de futebol. A verdade, porém, é que ainda agora se descobriu que o gasto anual do Governo com pareceres jurídicos ultrapassa largamente o investimento total do Estado no Euro 2004. Só que esse tema não comove os centralistas nem faz títulos nos jornais.
Estava eu cá a pensar com os meus botões que, nisto da corrupção, também há filhos e enteados, eis senão quando topo hoje com uma seminal contribuição teórica de Pacheco Pereira que esclarece de uma vez por todas por que é que os grandes interesses que actuam ao nível do estado central não podem ser confundidos com os pequenos e médios cujo campo privilegiado de acção se encontra nas autarquias.
Escreve ele:
«Estes [os grandes interesses] actuam mais ao nível do topo dos partidos e nos sectores não escrutinados dos governos, como os assessores, consultores, etc., exercendo o seu poder mais na base da pressão, da negociação e da troca de favores, do que na corrupção.»
Sim, leram bem, quando toca aos grandes interesses não se trata de corrupção, trata-se de pressão, de negociação de troca de favores. Arsène Lupin, o gatuno elegante, não era um ladrão, era apenas um amigo do alheio.
Apreciem bem a elegância do eufemismo. Não há dúvida: gente fina é outra coisa.
24.1.05
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