29.1.05

Civilização e barbárie

A palavra genocídio foi inventada há poucos anos, mas a realidade que designa não é nova, visto que a exterminação de povos inteiros é conhecida desde a Antiguidade. Não foram os nazis que a inventaram.

Impressiona-nos a dimensão da matança que atingiu milhões de pessoas. Porém, em termos relativos, já houve na história catástrofes bem maiores. Durante a Guerra dos Trinta Anos do século dezassete, por exemplo, pelo menos 40% da população alemã morreu: 8 milhões de pessoas num total de 21 milhões.

O mais perturbador é o Holocausto ter tido lugar num país civilizadíssimo que, aliás, tivera até aí muito mais êxito na integração da população judaica do que a maioria dos restantes países europeus. No princípio do século vinte era na França e não na Alemanha que o anti-semitismo era mais forte.

O crime em massa de inspiração política na Rússia de Estaline infelizmente não surpreende, porque veio na sequência natural das atrocidades dos pogroms, da violência indiscriminada contra os opositores políticos, das arbitrariedades policiais e dos exílios siberianos correntes nos tempos dos czares. Como conta Herzen, na Rússia do século dezanove um sujeito podia ser enforcado por escrever uma ode a Hegel.

Mas a Alemanha não era a Rússia e, por isso, essas coisas não eram supostas acontecer lá. Foi na inesperada convergência entre civilização e barbárie que residiu o carácter singular da guerra suja contra o povo judaico.

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