O meu pai tinha, por razões profissionais, muitos amigos estrangeiros. Suecos, dinamarqueses, suíços, italianos e, sobretudo, holandeses, detestavam unanimemente os alemães. Uma holandesa dizia que, muitos depois da guerra, ainda ficava com pele de galinha quando os ouvia falar a sua língua.
Nos filmes de guerra, os alemães eram sempre feios, estúpidos e maus. «O Dia Mais Longo» foi o primeiro filme que vi onde eles se assemelhavam a seres humanos.
Mas na minha família havia um alemão chamado Fritz, casado com uma irmã da minha tia, uma judia de apelido Cohen. Era um tipo muito animado e dado à música. Nos casamentos familiares despedia a orquestra e, sentado ao piano ou abraçado ao acordeão, tocava e cantava a noite inteira.
Visitei a Alemanha pela primeira vez em 1977. O aeroporto de Frankfurt estava em pé de guerra, com polícias de choque armados até aos dentes a correrem de um lado para o outro. A Fracção do Exército Vermelho assaltara um avião da Lufthansa em África para exigir a libertação do seu líder Andreas Baader, e temia-se que mais algum acto terrorista pudesse ser tentado.
O golpe falhou e, dias depois, Baader suicidou-se na prisão, imitando o gesto da sua camarada Ulrike Meinhof um ano antes.
Em plena Feira do Livro de Frankfurt vi-me subitamente rodeado de civis armados com metralhadoras. Eram polícias à paisana que acompanhavam o Ministro da Cultura numa ronda pelos stands.
Tudo isto se harmonizava perfeitamente com a imagem de brutalidade que aprenderamos a associar à Alemanha, ao fim e ao cabo uma forma simples e tranquilizadora de explicar tudo o que por lá se passara no tempo de Hitler.
28.1.05
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