Fiquei incrédulo ao ouvir Campos e Cunha proclamar ontem na SIC-Notícias que a presente situação financeira mundial e o consequente aumento dos jutos obriga a repensar os investimentos públicos programados, designadamente o novo aeroporto de Lisboa e o TGV.
É exactamente o contrário: o crescente diferencial entre as taxas de juro a que o Estado hoje consegue financiar-se em comparação com as exigidas às empresas recomendaria que projectos que estava previsto serem entregues à iniciativa privada sejam antes assumidos pelo sector público, pela simples razão de que, assim, ficarão muito mais baratos.
É claro, porém, que a opinião de Campos e Cunha não resulta dos novos condicionalismos financeiros que invoca em favor do seu argumento. Ele sempre foi contra o investimento público e, em particular, contra os projectos em causa, razão que, aliás, alegou para sair do governo na primeira curva da estrada. E isso porque Campos e Cunha é um dos daqueles financeiros de visão estreita incapazes de pensar uma estratégia de desenvolvimento para Portugal.
Talvez ele tenha ouvido dizer que o turismo é a primeira actividade económica do país, e é possível que alguém lhe tenha feito notar que o turismo algarvio só arrancou depois de construído o aeroporto de Faro. Somando e um e um, acredito ser viável fazê-lo entender que Lisboa - presentemente a nossa principal região turística - não pode desenvolver-se com um aeroporto que, nos rankings internacionais de satisfação dos passageiros, compete directamente com o de Bombaim.
Campos e Cunha (como Ferreira Leite, aliás, de quem parece ser ministro sombra) não se rala com minudências dessas. Não há dinheiro, e pronto: o resto, ou seja, o desenvolvimento da economia portuguesa já não é da conta dele. Esta atitude é aceitável num mero professor de Economia, mas não num ex-Ministro das Finanças com pretensões a líder de opinião.
Um ministro sombra ou a sombra de um economista? Decidam vocês.
1.10.08
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6 comentários:
E garantias de retorno do investimento? Eu sou contribuinte e exijo saber o retorno esperado (e quantificado)desses investimentos onde se aplica dinheiro dos meus impostos.
Esse mito que basta atirar dinheiro para economia para que esta arrebite, também tem muito que se lhe diga.
Há quem confunda "contribuinte" com "investidor". Era bom, mas não é exactamente o mesmo. Pelo menos não em democracia.
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Nem o momento actual por que passa o mundo é suficiente para que algumas personagens da nossa política virem o disco. Afinal o grau de irresponsabilidade é mesmo elevado. Neste momento virem questionar os projectos de investimento público é no mínimo uma atitude irreflectida. Ou calculista em demasia.
O que espanta é acharem que o discurso do velho do restelo ainda cola...
O governo está a demorar imenso para arrancar com o TGV e o Aeroporto. Não se percebe.
Eu como contribuinte o exijo!!! Vou já pedir o Livro.
gl,
para si o contribuinte não tem nada que questionar onde é aplicado o seu dinheiro? Se assim, for sugiro que deixe de se chamar Estado e se passe a chamar simplesmente Ladrão.
Sobre Campos e Cunha subscrevo totalmente a sua opinião. Como professor, deve ser como aqueles alunos de 20 valores, que postos perante a realidade da vida, não são capazes de decidir. Fazem estudos.
Um exemplo da vida. Sou administrador de uma pequena empresa, da fileira dos materiais de construção,onde o mercado do sector se caracteriza por uma oferta que é, ainda, o dobro da procura. Os preços de venda cairam rapidamente mais de 40%. Mercado bem desregulado e cuja perspectiva de crescimento é mínima. Desde o início da crise neste sector em 2002 até 2006 tivemos sempre prejuízo. A energia (de origem fóssil) valia 40% do produto final. Cada ano pior. As vendas e os preços a cairem e os custos a aumentar. Em risco 24 postos de trabalho e o património de uma família. Perante esta situação que fazer? Se o administrador fosse Campos e Cunha, coerentemente zero investimento e talvez rezar. O que foi feito foi investir numa alternativa energética que reduzisse drasticamente os custos. Investiu-se em equipamentos para uma alternativa energética não fóssil e muito mais económica. Interessava sair da dependência do petróleo, mas o custo era imenso para o volume de negócios da empresa. Mas, avançou-se e em 2007 já tivemos lucro. Com o terrível aumento do preço de petróleo se não tivessemos investido em 2006, hoje estávamos falidos e com 24 pessoas no desemprego. O investimento está quase pago e existe futuro para a empresa, pois não foi a uma alteração conjuntural a que se deu o resultado. É sustentável.
Ao contrário do Tarzan e do GL,afirmo que investam meu dinheiro de contribuinte em investimentos que nos garantam um futuro sustentável. Não o distribuam aos ditos pobres, porque eles não deixarão de ser pobres e muitos mais passarão a sê-lo, se não houver desenvolvimento e criação de emprego.
Amilcar Gomes da Silva
A dificuldade de financiamento dos consórcios privados, a apetência da banca em emprestar dinheiro ao Estado a spread negativo e acalmia na economia, são todos factores para o Estado investir. É preciso é ver o que se constroi...
"para si o contribuinte não tem nada que questionar onde é aplicado o seu dinheiro?"
Tem. Há eleições a cada 4 anos e há a Assembleia da República, que "sou eu, lá".
A minha crítica à sua frase, tem a ver com o facto de que ouço muito os contribuintes a cobrar direitos e pouco a assumir deveres. Nada de pessoal, Tarzan.
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